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sábado, 23 de maio de 2009

Cultura: até onde?

O livro que acabei de ler, O livreiro de Cabul (Asne Seierstad), é basicamente um relato do dia-a-dia e dos problemas de uma família do Afeganistão. A autora, que também é jornalista, ficou hospedada numa casa de classe média alta para os padrões afegãos, e lá pôde presenciar todos os impasses do anacronismo do Islã.

"O valor de uma noiva está no hímen; o valor de uma esposa está em quantos filhos homens ela põe no mundo". Essa frase do livro retrata bem um legado cultural que, ao olhar ocidental (do qual, logicamente, faço parte), soa absurdo. Lá, as mulheres não podem sair sozinhas nem para comprar cebolas; não podem abrir empresas, nem uma lojinha sequer; só podem receber cartas de parentes, entre tantas outras restrições. O pior é que, mesmo as mulheres tendo sido moldadas ao Corão, elas sempre imaginam como seria viver no Ocidente. Muitas vezes a autora do livro registrou choros e mais choros das duas esposas do protagonista da história. A primeira esposa, a mais velha, ficou inutilizada depois dos 50 anos, não rendia mais filhos, então o marido encontrou uma outra, de apenas 14 anos. A mais velha ficou trabalhando, então, como empregada, sujeita a constantes espancamentos dos filhos, sobrinhos e agregados - na casa moravam 15 pessoas.

O livro fala muito do Talibã, regime que quer forçar os costumes para que fiquem de acordo com aqueles da época de Maomé. Eis as principais leis do Talibã: "É proibido às mulheres andarem descobertas; Músicas estão estritamente proibidas; É proibido barbear-se; É proibido soltar pipas (porque isso estimula as crianças a fugir das escolas); É proibido reproduzir imagens de seres vivos; É proibido usar cortes de cabelo no estilo inglês ou americano; É proibido tocar tambor; É proibido ficar fora de casa depois das 22h". Minha pergunta é: como um regime desses pode ter respaldo popular?

Uma passagem que me marcou no livro foi a da morte de uma jovem menina. Uma jovem de 14 anos, que chamaremos de Sharifa, estava na cozinha, preparando o alimento da casa, quando chegou um amigo de um dos três irmãos. Chamá-lo-emos de Rajid. Quando Sharifa foi servir a comida no tapete na sala, Rajid, num breve olhar (já que não se deve olhar diretamente à empregada da casa), encantou-se com a jovem. A partir daquele momento, ele escreveria longas cartas de amor prometendo tudo a Sharifa, que, por sua vez, recebia as cartas escondidas em caixas de alimentos. Um sentimento de excitação, amor, paixão tomava conta do intocado coração de Sharifa. Era uma coisa totalmente nova para ela. Até que Rajid resolveu ousar: combinou um ponto de encontro entre os dois, coisa estritamente proibida na cultura muçulmana. Sharifa, tomada pelo turbilhão, encontrou uma desculpa qualquer e conseguiu sair de casa por um tempinho. Na praça perto de casa, estava Rajid escondido esperando por ela. Encontraram-se e furtivamente se tocaram pela primeira vez.

Na rua, no mesmo momento, passava o carro de um dos irmãos, que viu toda a cena com a irmã. Prontamente avisou aos pais, que ficaram perplexos: como é possível uma jovem encontrar-se com um jovem? Isso seria vergonhoso para a família; a sociedade, os amigos nunca mais quereriam conviver com essa família impura e irresponsável. Sharifa não poderia mais se casar com ninguém, estaria fadada a morrer na miséria.

Pensando nisso, a família resolveu tomar providências. Numa noite, Sharifa dormia no seu tapete, junto com todos os outros agregados da família. Então, os três irmãos, a mando dos pais, entraram imperceptivelmente no quarto, pegaram uma almofada, e envolveram-na no rosto da irmã durante alguns minutos, até que Sharifa caiu morta no chão.

Isso faz parte da cultura muçulmana. O que se pode fazer?, dizer Sua cultura está errada? É uma questão muito complicada. Mas até que ponto manter uma tradição milenar é benéfico?, até que ponto esse anacronismo vai existir?, não é possível uma modernização das tradições?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Em falta

Tem faltado poesia ultimamente. Os dias andam abafados e tortuosos, e as palavras derreteram e se dissiparam.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Barreiras

Disse-me uma pessoa próxima, ao ouvir o alto som do rádio do carro que passava perto, Aposto que esse cara é um daqueles idiotas que usam colar de prata, brinco, anel...

Tribunais de vários estados brasileiros impediram a realização da Marcha da maconha, evento organizado mundialmente. O direito à livre expressão só é livre se o juiz der ganho de causa.

Mulher de uma cidadezinha de Minas Gerais é condenada à prisão e a pagamento de multa por difamação, depois de relatar num jornal de 500 exemplares/dia a situação do presídio da cidade, explicitando todos os pormenores dos desmandos dos diretores da cadeia.

Não suporto som alto, seja de qualquer gênero. Acho essa atitude extremamente desagradável e de mau gosto. Mas que linha de raciocínio, senão um lapso de consciência ou uma pseudoconsciência no vácuo, conseguiria associar o estilo de se vestir da pessoa com esse flagrante de falta de bom senso? Como uma manifestação meramente externa interfere no intelecto da pessoa? Eu, quando cultivei um rebelde e inusitado moicano por um tempo, não me senti mais burro de absoluto. Aliás, foi com ele que fiz a segunda fase da Federal.

Sou contra a descriminalização da maconha por diversas razões, mas é inegável que essa corrente tem agregado boa parte da população brasileira ultimamente. E, naturalmente, essa parcela vai querer pelo menos abrir um canal de discussão a fim de mostrar seus propósitos, já que tem respaldo para tal na Constituição. São-lhes problema, porém, a mesquinhez e o conservadorismo anacrônicos daqueles que interpretam nossas leis. E o direito a manifestar-se é soprado pra longe, como fina areia, carregando grãos que talvez nos vingassem algo.

São exemplos como esses que caracterizam o Brasil como um país com pouca liberdade de expressão, segundo a OEA, Organização dos Estados Americanos. Barreiras que devem ser superadas aos poucos, e que se comece no individual.

sábado, 2 de maio de 2009

Esperança

Um vídeo que me deu esperanças. Clique aqui para sentir o gosto de um Brasil que pode mudar.