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sábado, 30 de outubro de 2010

Criar 2

Está à sua vista uma moça com um caderno no colo, também sentada num banco público igual ao seu. Imagina, agora, o que ela deverá estar fazendo com o caderno aberto e caneta em punho. Dado o local onde se encontram, notório centro de inteligência das ciências exatas, é razoável esperar que a moça esteja se debruçando sobre algum problema da física; mas o observador prefere supor que ela esteja descrevendo a imaginação, assim como ele. Supõe, também, que ela está escrevendo sobre ele, numa metalinguagem infinita, como se seus pensamentos estivessem em ressonância. No ápice da criação, porém, chega à moça uma outra pessoa, que insensivelmente desbarata todo o processo criativo do observador e da observadora.

Distraído com a interrupção, o observador percebe passando-lhe próximo um indivíduo cuja fisionomia não lhe nega: é professor. Percebe em seu andar e seus olhos uma solidão profunda: olhar escorregadio e evasivo; andar descompassado e apressado. Imagina agora como será a vida desse indivíduo.

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