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domingo, 22 de março de 2009

Uns casos

Este post terá caráter "meu querido diário" porque estou a fim de falar do dia de hoje, somente.

Levanto-me da cama, resisto a seu tentador canto de sereia. Primeira coisa em que penso: tenho reunião com o Olhos Abertos, um pequeno grupo de jovens da minha idade que combinaram de se reunir quinzenalmente para discutir alguns temas pré-determinados. Fico muito animado no dia do nosso encontro, simplesmente adoro falar com pessoas com quem tenho algumas características em comum.

Passei a manhã toda estudando cálculo. Incrível a mecanização que esse estudo me impõe. Aliás, é incrível a mecanização que todo o sistema nos impõe. Quem tem tempo para se expressar artisticamente? Quem tem tempo para ler?, para escrever?, para criar? Essa fria mecânica me gela o rosto, me chama ao mundo material. Não sei como a maioria da população consegue viver sem a arte, sem a espontaneidade. Deve ser muito monótono viver sem apreciar as róseas bochechas de uma criança, sem sentir o inefável prazer de beber um copo d'água, sem se arrepiar com o friozinho da chuva, sem se arrepiar com o doce e suave olor das gardênias, sem se arrepiar com uma bela passagem de um noturno de Chopin. Não consigo imaginar uma vida saudável sem isso.

Começo a imaginar como será meu trajeto para o ponto de encontro do grupo, a livraria Cultura, numa das ilhas de Recife. Decido ir de ônibus a fim de conhecer melhor a cidade. Logo depois de atravessar a ponte Princesa Izabel, avisto dois indivíduos vindo em minha direção. Olho ao meu redor e não vejo mais ninguém, a não ser um casal à mesma distância dos dois outros indivíduos. Pressinto o perigo, uma espécie de ameaça flutuando no ar, como quem percebe a massa de nuvem que cobre o céu se crispar à espera de que um trovão se deflagre. Então, apresso o passo, tentando manter a calma. Esses dois sujeitos também aceleram o ritmo até que chegam a mim. Um deles me aborda: Tem cinquenta centavos aí? Calmamente, digo que não, e, então, logo depois, o mesmo cara fala: Passa o celular. Minha mão dentro do bolso direito gelou, mas por acaso peguei o celular, mesmo que por instinto. Pela primeira vez fora assaltado. Senti como é ser refém da sociedade. Entretanto, não me abalei muito. Imaginei como deve ser a sensação de ser diariamente assaltado pela sociedade, como eram aqueles dois pobres indivíduos, que tudo o que conseguiram foi um velho e ultrapassado celular. Como deve ser a vida deles? O que será que irão fazer com o dinheiro conseguido injustamente? Quem deverá comprar um aparelho daqueles? Enfim, eu sei que eles não são totalmente culpados por isso. Pode parecer besteira, mas é o que eu realmente penso.

A discussão da reunião fica para outra oportunidade, porque agora não quero me prolongar. Vou aproveitar para saciar minha sede com um revigorante copo d'água, talvez o maior prazer que a vida nos proporcione.

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